Quem sou eu

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Sou português, filho de pais incógnitos. Nasci em Lisboa, percorri Portugal e pela mão de Amália Rodrigues, corri mundo. Estou em toda a parte em que haja um português. Sou um capítulo de cultura portuguesa e a expressão máxima de Portugal. O Menor foi meu pai e minha mãe, o Mouraria é meu amante e casei-me com o Corrido. Tenho muitas namoradas, as Meninas Músicas filhas de distintos pais, os Meninos Poemas também namoram com elas, amo os Poetas ♥ ! Para fazer pirraça sou dedilhado numa guitarra, por vezes choro outras rio ... A D. Viola dá-me a marcação. Muito se diz sobre mim e eu continuo a ser mistério, sou amante, namorado, sou casado e sou galdério, sou leviano, atordoado mas também sei ser sério. Gosto da luz da candeia e do cintilar das velas, mas também gosto dos holofotes e do palco, sou vaidoso, sou boémio, sou artista, sou sofredor, sou alegre, sou verdade, sou português e por isso sou fadista! Gosto que me cantem bem, que me digam bem e que não me troquem as palavras... Posto isto, sou a canção mais bela do mundo ♥ !

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Origem de Mário Raínho

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quarta-feira, fevereiro 08, 2012

História versejada da guitarra portuguesa

O imenso Poeta que é Torre da Guia, e que me faz a honra de ser meu amigo, escreveu há tempos esta "História Versejada da Guitarra Portuguesa", cuidadosa e apaixonadamente guardei-a numa pasta especial, uma daquelas pastas que se guardam com o coração. Mas, pensando melhor, hoje decidi publicá-la ... com um abraço de amizade ao meu querido amigo e Poeta Torre da Guia ♥

"Pela Primavera de 1966, ia eu nos 26 anos de idade, seduzido e "empolgado por inopinada ocorrência que tinha a ver com as lides "fadistas (estava curioso e queria saber de fonte experiente qual era a "técnica do versejo de fado), comecei a frequentar assiduamente a cave "típica da «Candeia» na rua do Almada, no Porto.

"Então, com o Álvaro Martins, à guitarra portuguesa, e o Mário Lopes, à "guitarra clássica, apreciava imenso ouvir o Fernando Gomes interpretar "em animado ritmo a «Bruxa de Pinho», tema da autoria de Jorge "Rosa e Francisco Carvalhinho que fazia parte do reportório de António "Mourão, que era na decorrência um muito admirado e aplaudido cantor "da rádio e da televisão.

BRUXA DE PINHO*

Guitarra, minha guitarra,
bruxa bizarra de doze cordas,
só tu animas e acordas
o fado que a mim se agarra;
se te encosto junto ao peito
no terno jeito de quem embala
o peito quase me estala
a palpitar de satisfeito.

Bruxa de pinho, mãe do castiço,
tens um feitiço que não se entende,
mas adivinho quando te abraço
que existe um laço que a ti me prende.
Guitarra tu és a amarra
que prende a minh'alma ao fado;
eu e ele sem ti ao lado
não somos nada, minha guitarra.

Há quem se rale e amofine
e não se afine p'la tua escala;
deixa ralar quem se rala,
basta que eu não desafine.
Só peço a Deus que por sorte
e até á morte, ó feiticeira,
sejas minha companheira
e minha estrela do norte.

"Quase 43 anos depois, dada a polémica incertitude e o «assim-e-assado» permanecente sobre a autêntica origem da Guitarra "Portuguesa, ocorre-me imaginar, argumentar, equacionar e expor a "situação seguinte:

"Sugerindo a ideia, não é difícil imaginar a ambiência social que "decorria em Lisboa na época das invasões francesas, entre 1807 e "1814, ora entre a soldadesca invasora, ora entre as tropas inglesas, "nossas aliadas, que ajudaram decisivamente Portugal a libertar-se da "cobiça napoleónica e a manter-se soberano.

"Em 30 de Novembro de 1807, comandando um exército extremamente "desgastado e faminto, o general Junot, um dos dilectos títeres militares "de Napoleão Bonaparte, após penosa marcha de centenas de "quilómetros, tomou e apoderou-se de grande parte da cidade de Lisboa. "No dia anterior, entre um séquito de 15 mil nobres distribuídos por 34 "navios, a Família Real portuguesa embarcara em preventiva fuga para o "Brasil.

"Só em Agosto do ano seguinte, depois de diversos confrontos entre os "sitiadores e a estóica resistência da população, o general Arthur "Wellesley, mais tarde Duque de Wellington, comandando uma força "britânica, conseguiu pôr termo ao assédio invasor, vencendo "sucessivamente as batalhas de Roliça e do Vimieiro, forçando o inimigo "à Convenção de Sintra, o que permitiu a retirada em navios ingleses do "que restava do exército francês.

"Assim, num dado momento e em gostosa diversão nocturna, numa "daquelas heterógeneas e concorridas tascas alfacinhas, encontrava-se "um grupo de foliões bebendo e fumando entre camareiras, enquanto um "soldado inglês, em exímio dedilhado, tocava um bandolim. Atento à "cena, preso de fascínio ao magnífico som que se soltava do curioso "instrumento, estava um afamado marceneiro português também a "bebericar uns copos. Deliciado com o espectáculo que fruía, o oportuno "marceneiro, captando quanto possível de memória as formas do "mandolim, não descansou até produzir, ao cabo de aturada trabalheira, "um artifício idêntico...

"Quanto a mim, em relacionado raciocínio sobre os factos práticos da "vida, quero crer que foi um desiderato, mais ou menos como aquele que "descrevo, que deu origem à feitura da nossa muito peculiar e "apaixonante guitarra portuguesa, designada «bruxa de pinho» por "inspirado poeta, que a considerou ainda «mãe do castiço, tens um "feitiço que não se entende».

QUIÇÁ NASCESSE ASSIM*

Matutando, cá pra mim,
terá sido o bandolim
que inspirou concerteza
o artista português
que ao acaso um dia fez
a guitarra portuguesa.

Ao redor de lauta mesa
uma tertúlia burguesa
vejo em grande diversão
e lá no meio abancado
em exímio dedilhado
alguém anima a sessão.

Recostado ao balcão,
um mestre na profissão
de marceneiro afamado,
observa muito atento
as formas ao instrumento
por seu som maravilhado.

Mais tarde, assaz devotado,
sem modelo e isolado
trabalhou dias a eito:
recortou, lixou, poliu
e assim que concluiu
pasmou do que tinha feito.

Encostando a seu peito
o instrumento e com jeito
ao tocá-lo na incerteza,
pela emoção que sentiu
foi o primeiro que ouviu
a guitarra portuguesa!...

Torre da Guia

                  *Molduras já publicadas neste blog 




2 comentários:

  1. Eu fico... preso nas palavras de Torre da Guia, sejam prosa, verso, ou outro tipo de escrita que ele, não duvido, um dia inventará!... Comecei, muito, mas muito devagarinho, meio a medo, a tornar-me admirador deste homem que, sem medos nem floreados, tem a coragem de enfrentar ventos e tempestades, venham eles de onde vierem, moldando em Poesia toda uma rica vivência, que me fascina conhecer.

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