O investigador José Alberto Sardinha defende a origem portuguesa do fado, no seu mais recente livro "A origem do Fado".
"O fado nasceu em Portugal a partir de um substrato comum a todo o território nacional que é o romanceiro tradicional. É este canto narrativo que dá origem ao fado", defendeu o autor em declarações à Lusa. O livro "A Origem do Fado", agora editado, é o resultado de uma investigação de 22 anos.
José Alberto Sardinha realçou que "antes de ser um género musical, o fado é um texto poético, um poema narrativo", e situa a sua origem no século XVI.
"Ainda hoje os fadistas afirmam que o fado tem de contar uma história, e essa é a origem nacional do fado: contar uma história que emocionasse primeiro o fadista e, através deste, a audiência", sustentou.
"Na verdade, a origem do fado está naquilo que nós chamamos pejorativamente o 'fado da desgraçadinha' ou o 'fado de faca e alguidar'. Esse é que é o fado primitivo, a origem do fado", argumentou.
Para o investigador, as origens do fado "situar-se-ão no século XVI quando se dá a passagem do romanceiro histórico para o romanceiro novalesco, como já Carolina Michaëlis o tinha referenciado sem fundamentar", disse.
A tese defendida por José Alberto Sardinha contraria a vigente de que o fado tem origem no lundum e numa dança brasileira, a umbigada.
"Ninguém até agora explicou porque chamavam fado àquela dança, e umbigadas há em várias partes", referiu.
Sardinha reconhece que a sua tese poderá "parecer estranha" e que é "audaciosa porque é inovadora", mas garante que "está devidamente fundamentada, é coerente, lógica e tem sequência. Tal como está demonstrado, tudo encaixa".
"Eu comparo o fado que é uma tradição oral com a restante tradição oral portuguesa e não vou buscar origens a outras partes", acrescentou.
Na obra, o autor referencia a evolução desde o século XVI até às "canções narrativas do século XVIII" e destas ao fado, como é citado no século XIX, quando surgiu a Severa e até o rei D. Carlos o tocava.
As primeiras notícias conhecidas são do começo do século XIX e surgem do Brasil. Em Portugal "há uma noticiazinha na década de 1830 e a partir de 1840, mas uma investigação mais aturada na Torre do Tombo dará textos anteriores às datas brasileiras", afirmou, confiante, o investigador.
Para o autor, "a origem brasileira do fado está por documentar, assim como ninguém explica como se passa do fado dança para o fado canção".
Por outro lado, acrescentando mais um argumento à tese nacional, Sardinha afirmou que a palavra fado significava, no contexto popular, o contar de uma história de vida e no sentido erudito é sinónimo de destino.
"Quando se contava a vida da Isaurinha, por exemplo, o que a audiência pedia era, 'conta aí o fado - a história da vida - da Isaurinha", disse.
O livro, amplamente ilustrado e integrando quatro CD, é apresentado na segunda-feira, dia 10, às 18:30 no Museu do Fado, numa palestra musicada do autor, na qual os vários temas musicais serão exemplificado por Ana Guerra acompanhada à guitarra e à viola.
José Alberto Sardinha, advogado, tem nove títulos publicados, todos na área da música popular, entre eles, "Tunas do Marão" (2008), "Portugal, raízes musicais" (1997), "Modas estremenhas" (1989) e "Recolhas musicais da tradição oral portuguesa" (1982).
In "Portal do Fado"
O mais perto de tudo o que li!..
ResponderExcluirSobre Fado. Obrigado Sr. José Alberto Sardinha.